quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uma real parte de mim.

Querendo ou não, acho que meus melhores amigos sabem mais ou menos 20% de quem realmente sou, sobre minha vida, meu passado, etc. São raras as oportunidades nas quais converso sobre mim mesmo com qualquer pessoa. Ontem com o H. Antunes isso ficou muito claro ("limitações" lembra?). Então decidi escrever algumas historias aqui. "Historias" não é sinonimo de "contos fictícios", não tenho motivos para mentir.
Essa primeira historia é bem difícil de acreditar. Pra falar a verdade, nem eu mesmo sei o que aconteceu. Por isso vou contar as duas versões da historia, a minha e a das pessoas que assistiram.

Eu tinha uns 6 ou 7 anos. Morava em uma rua onde todos se conheciam, todos sabiam da vida de todos; se você não lavasse as mãos depois de ir ao banheiro acho que alguém descobriria. Como de costume, todas as crianças brincavam o dia inteiro na rua, enquanto os pais trabalhavam, as mães cuidavam da casa e os mais velhos sentavam na frente de suas casas para assistir as crianças. Foi uma época divertida da minha vida, eu tinha muitos amigos. Nessa casa eu morei mais que 6 meses, o que era bem difícil nessa parte da minha vida. Minha familia sempre decidia mudar antes que eu pudesse fazer amigos. Lembro de poucas coisas; a casa no fim da rua com o cachorro gigante que todos tinham medo, até o próprio dono temia a tal criatura; uma dia ela (a criatura) escapou, a rua ficou deserta em poucos segundos, todos fugiram com medo. Lembro também da arvore no começo da rua, quando ela dava frutos, as crianças faziam 'guerrinhas' com eles, machucava mas era divertido.
Um belo dia estávamos brincando na rua, todos, as mães estavam conversando na rua, e todas as crianças correndo. Minha mãe foi trabalhar, e assim que fiquei pronto fui encontrar as outras crianças para participar da brincadeira.
Foi o maior pega-pega que eu já participei, muitas pessoas, até os meninos mais velhos, que nunca se juntavam com os mais novos, decidiram brincar.
O ''pegador" estava correndo para me tornar o novo 'pegador', e eu não queria ser pego, eu era muito pequeno pra conseguir pegar outra pessoa depois. Então corri. Corri o máximo que podia. Eu corria olhando para ele, nem me preocupei em olhar para frente. Todos estavam rindo porque eu estava correndo mais que o outro menino maior...
Agora acaba a narrativa geral. Vou contar a minha versão da historia. O que eu vi e senti de verdade.
Continuei correndo e olhando para o "pegador". Eu via ele, e de fundo todas as outras crianças paradas se divertindo com a situação. Todos davam risada, inclusive eu. De repente o menino parou de correr. Pensei: "ele desistiu, ganhei dele!". Mas todos pararam de rir. No rosto dele não estava mais a expressão cansada e de quem estava se divertindo. Em seu lugar entrou uma expressão assustadora. Um olhar espantado. Continuei correndo quase que de costas, tentando imaginar qual seria o motivo de tal reação. "Todos pararam de rir? qual o motivo para esses rostos assustados?".
Finalmente olhei para frente. E entendi a razão de tanto espanto: eu estava dentro da casa no fim da rua, a do cachorro gigante. Um pastor alemão, ele era maior que eu. Eu tinha uns 6 anos, isso não é muita coisa, mas acho que até para alguém do meu tamanho atual, esse cachorro seria muito grande.
Só vi uma coisa: Aquele animal enorme, vindo em minha direção com sede de sangue. Tentei parar e cai no chão. Minhas pernas ficaram como um banquete para saciar a sede do animal. Ele veio com a boca aberta em direção à elas. Ficou tudo preto, desmaiei. Senti o pelo do cachorro nas minhas mãos. Senti pedras nos meus braços. Abri os olhos eu estava na minha casa, no segundo andar. As pessoas que não foram trabalhar aquele dia estavam conversando no sala do segundo andar, eu assisti eles por alguns segundos e percebi que eu estava muito alto. Eu estava quase no teto. Escutei pessoas gritando e olhei pela janela. Todos da rua estava gritando o nome do meu padrasto. Eu olhei pela janela e todos os moradores da rua estavam na frente da minha casa. A mulher no centro da multidão estava segurando algo. Algo sujo, vermelho, estranho. Forcei a vista para descobrir o que era. Era meu corpo com as pernas cheias de sangue. Com o choque da imagem eu pisque. Senti que estava correndo para dentro de casa, olhei no chão e meu chinelo estava cheio de sangue jogado no corredor. Pisquei novamente e estava no hospital, com as pernas enfaixadas, e com varias enfermeiras preocupadas olhando para mim.

Isso foi o que eu vi e lembro. Agora a historia os moradores da rua me contaram:
Eu entrei correndo na casa e cai na frente do cachorro. Ele mordeu meus pés e coxas. Enquanto ele mordia eu estava deitado apagado, as pessoas pensaram que eu estaria morto. Um garoto desmaiado não teria chances de sobreviver com aquele animal, e ninguém poderia parar ele, então eu estava totalmente desprotegido. Mas do nada eu levantei meu corpo, fiquei sentado na frente do cachorro. E empurrei ele com muita força. Ele se afastou, provavelmente com medo, e enquanto isso eu me arrastei para fora do alcance da corrente que prendia ele. Uma vizinha me pegou nos braços e me levou para frente da minha casa. Minha mãe foi avisada que eu estava no hospital. Ela veio o mais rápido possivel, entrou em casa sem acreditar no que falaram para ela. Só acreditou quando viu meu chinelo cheio de sangue no corredor.

Ok. Agora vamos para a parte que tento explicar. A parte que tiro minhas conclusões sobre o que aconteceu:
Desmaiei com o susto. Com algum instinto deshumano, alguma força além da minha compreensão, mesmo insconsiente, empurrei o cachorro e me arrastei até um lugar seguro onde pudensem me salvar. Isso tudo mesmo sem estar acordado, não acho normal uma criança de 6 anos ter força para empurrar um pastor alemão e sair se arrastando depois. A imagem que tive, estando em casa e em um lugar alto, poderia ser algum tipo de projeção astral onde meu espirito foi para perto de pessoas que me fariam me sentir seguro. A imagem que tive correndo e vendo meu chinelo cheio de sangue, pode ser o que minha mãe viu, eu de alguma forma ''entrei'' no corpo dela, e vi o que ela via.

Agora cabe a você leitor(a), acreditar ou não. Garanto que não menti, essas são memorias reais. Acreditar ou não em projeção astral ou qualquer outra tipo de situação sobrenatural. Não sou muito religioso e bla bla bla, mas eu sei o que vi, e sei em que acreditar. Muito provavelmente existe alguma explicação cientifica para tudo isso. Cabe a cada um escolher qual lado acreditar.

Um comentário:

  1. Eu acredito! Já tive algo parecido. Projeção astral? Sair do corpo?
    Não sei.
    Não sou NADA religioso, você sabe. Mas isso não me impede de acreditar nesse tipo de coisa. Não acredito em explicação religiosa que, de fato, não explica nada...mas acho que a ciência vai poder explicar, um dia =)

    E que bom que você sobreviveu pra contar né! Arrepiei, não sei se por causa da sua história, ou se pelo fato de ela me lembrar a minha própria...

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